23° dia: 20 de julho, sexta-feira

Oi!
Começando por ontem: fui ao médico ver aquele lance da minha garganta sangrando, sabe? Os exames foram tensos e teve uma hora lá que o médico perguntou se eu estava com alguém pra segurar a minha mão no procedimento... Você não estava lá pra segurar a minha mão e eu tive que ser grande o suficiente pra passar por tudo sozinha. No fim podia ser uma coisa infinitamente grave ou uma só grave. Graças a Deus é só grave, tratável e daqui a um mês eu estarei curada, se Deus quiser.

Ontem também eu conversei com o meu pai e ele prefere que eu não vá te visitar, porque senão eu vou ter que faltar no trabalho e ele não acha certo. Hoje contei isso pra sua mãe e ela disse que na quarta que vem falará pra você; eu espero que você não fique desapontado... Algumas coisas simplesmente não são pra ser.
Se a sua médica permitir, enquanto sua mãe estiver com você ela vai me ligar e nós vamos nos falar pelo telefone. Se não der, final de agosto você já está aí e vai fazer o que me prometeu na véspera da sua ida. Lembra?

Quanto a hoje, mais nada de novo... Estou bem quietinha por esses dias... Tá tudo assim, tão diferente...


É incrível como nos primeiros posts eu colocava tudo bem bonito, como se fosse um sonho. Como se a clínica fosse um passe de mágica e a partir do momento que você colocar o pé aqui fora de novo tudo seria diferente. Não que eu não acredite mais, não é isso! É que você sabe... Eu sempre fui a menininha dos contos de fadas... Sempre acreditei que o bem venceria, acreditei no meu príncipe encantado que chegou tão cedo... Eu tinha só 15 anos quando você apareceu! Como eu me sentia agraciada!
De repente eu fui como que arrancada do mundo bonito para conviver com a realidade.
Hoje é difícil pensar que a recuperação será linda como nos meus sonhos e, sinceramente, é isso que me anda levando pra longe de você... A confiança de olhos fechados anda se perdendo e eu já não sei se isso é bom ou ruim.
Tenho medo de ser a culpada por isso. Tenho medo de você ler isso e ficar mal. Mas a culpa não é minha, eu tenho que interiorizar isso e você sabe: eu escolhi a verdade.

Sinto sua falta, mas não tanto quanto antes.

De repente eu fui como que arrancada do mundo bonito para conviver com a realidade.
Bem-vindo a realidade, Gu.

Só por hoje não vou pedir pra você voltar.